Olá, como estão?
Eu, estou cansadíssima.
E cheia de dores.
O frio dá cabo de mim…
Mas só tenho uma coisa a
fazer: aguentar-me à bronca.
E manter-me quente.
Não é á toa que se diz que o
que não tem remédio, remediado está.
Mas (e agora estou a
dirigir-me especialmente àqueles que, como eu, são atáxicos) apesar de tudo, ou
mesmo por causa disso, nunca sentiram vontade de desistir?
Levantar as mãos para o alto
e pensar “que se lixe”?
Esta é uma doença
progressiva. E cruel. Que lenta e inexoravelmente, nos vai roubando a nossa
capacidade de andar, de coordenar os movimentos, falar, até comer. Que despe a
nossa alma e estilhaça a nossa dignidade. Mas cuja suprema perversidade, é não
atingir o sistema cognitivo. Ou seja, sabemos e temos consciência do que nos
está a acontecer. Sempre.
Então, para quê encetar duras
batalhas diárias por dá cá aquela palha, quando eu já sei que esta é uma guerra
perdida, logo à partida?
Posso adiar a minha derrota
final, mas isso é tudo o que eu consigo fazer.
E será que vale a pena?
Será que o meu cansaço,
físico e moral, é compensado pelas pequenas vitórias que eu possa alcançar nas
minhas constantes batalhas diárias?
Também.
Mas o que mais me faz
continuar, confesso, também é outra coisa.
É que, estão a ver, para mim desistir é sinónimo de perder.
E eu detesto perder.
Para mim, perder, nem a feijões!
E isto leva-me a outro assunto.
Por vezes, deixo de tentar de fazer uma coisa.
Mas não estou a desistir.
Estou antes a escolher as minhas batalhas.
Já fui acusada de estar a desistir.
E ao princípio ainda tinha a preocupação de tentar
explicar que não se tratava de nada disso.
Mas agora, confesso, já não.
Disso sim, assumo, que desisti.
Muitas e muitas vezes senti que estava a falar para uma
parede.
Senti que estava a desperdiçar o meu tempo e o meu latim,
por assim dizer.
E deixei-me disso.
Porque das duas, uma: ou realmente não percebem, ou não
querem perceber.
Então, agora deixo-as pensarem o que quiserem.
Se isso as faz felizes…
Deixo agora aqui um poema, “Presságio” de Pedro Homem de
Mello, de que gosto muito:
Presságio
Ela há-de vir como um punhal
silente
Cravar-se para sempre no meu
peito.
Podem os deuses rir na hora
presente
Que ela há-de vir como um
punhal direito.
Cubram-me lutos, sordidez e
chagas!
Também rubis das minhas mãos
morenas!
Rasguem-se os véus do leito em
que me afagas!
— A coroa de ferro é cinza
apenas...
E ela há-de vir a lepra que
receio
E cuja sombra, aos poucos me
consome.
Ela há-de vir, maior que a sede
e a fome,
Ela há-de vir, a dor que ainda
não veio.
Pedro Homem de Mello, in "Príncipe Perfeito"
Bom, acho que, por agora, é
tudo…
Até uma próxima
oportunidade.