Olá, como estão?
Afinal, o tal avião malaio
não desapareceu simplesmente.
Parece que, aos poucos, já
estão a retirar os corpos do fundo do mar – acho que já recuperaram cerca de
40.
Também acontece com vocês
aparecerem com nódoas negras que não sabem explicar?
Comigo, é o pão nosso de
cada dia.
Volta na volta, oiço a minha
mãe a perguntar-me: “Tens aqui uma nódoa negra tão grande… Onde é que fizeste
isto?”
E a minha resposta é sempre a
mesma: “Não faço a mínima ideia.”
A minha pele é muito clara,
muito pálida.
E basta eu encostar-me ao
que quer que seja com mais alguma força, que pronto, já está.
Nódoa negra.
E muitas nem as sinto, não
me doem.
Lembro-me daqui há uns anos,
ainda antes de eu estar na cadeira de rodas.
Como eu já tinha desequilíbrios,
ia muitas vezes de encontro às coisas.
E ficava com nódoas negras,
especialmente nos braços.
No Inverno, com as mangas
compridas, a coisa ainda disfarçava.
Agora, no Verão…
Quem me conhecia, sabia o
que se passava e qual era o meu problema.
O pior eram os outros, quem
não me conhecia.
Mais que uma vez apanhei-os
a olhar para mim um olhar… no mínimo, estranho: lamento, impressão, incómodo,
desprezo, sei lá mais o quê.
E eu não percebia a razão
daqueles olhares.
Até que, de repente, se fez
luz.
Eu sabia porque é que as
pessoas olhavam para mim assim.
Na mente delas, eu devia
levar uma vida desgraçada, a apanhar surras valentes. E as nódoas negras nos
meus braços seriam a prova disso mesmo.
Isto só prova que as
aparências podem iludir.
E bem.
E é com esta nota, que me
despeço.
Até uma próxima oportunidade.
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