Olá, como estão?
Fez ontem precisamente 30
anos.
Como o tempo passa…
Parece mesmo que foi ontem.
Dia: 25 de Janeiro de 1985,
Sexta-feira
Local: Escola Secundária do
Cartaxo
Período: tarde (16h00,
aproximadamente)
Acontecimento: Explosão de
gás
Esse foi um dia que ficou
gravado dentro de mim a ferro e fogo.
E antes que me perguntem, eu
digo: não, eu não estava lá.
Apesar de estudar nessa
escola: frequentava o 9.º A, na área de Saúde.
Foi o meu 1.º ano nessa
escola.
Comecei os meus estudos no
Vale de Santarém, na Escola Primária Aristides Graça.
O ensino preparatório
(actuais 5.º e 6.º ano), fi-lo na Escola Preparatória Sá da Bandeira (antigo
Colégio Andaluz, actual Instituto Politécnico de Santarém), em Santarém.
Para frequentar o ensino
secundário, transitei para a Escola Secundária de Marvila (antiga Escola
Comercial, actual Escola Secundária Dr. Ginestal Machado), também em Santarém.
Como, ao transitar para o
9.º ano, tinha que escolher uma área de estudo, escolhi Saúde.
Friso aqui que esta escolha
não era definitiva. A escolha da área de estudos só se tornava definitiva ao
transitar para o 10.º ano. Ora, como eu já sabia muito bem o que queria (a área
de Humanísticas) e como essa área não havia no 9.º ano (só a partir do 10.º
ano), escolhi, de entre as áreas possíveis, a que me pareceu mais interessante:
Saúde.
Como, na escola onde
estudava, não havia essa área, pedi transferência para a Escola Secundária Sá
da Bandeira (antigo Liceu Sá da Bandeira), ainda em Santarém.
Mas na altura (em 1984)
havia, ironia das ironias, sobrelotação das escolas – alunos a mais para
escolas a menos…
Como tal, o meu processo de
inscrição foi transferido para outra escola que tinha a área que eu pretendia,
perto da minha área de residência.
A Escola Secundária do
Cartaxo.
Até que me integrei depressa
e bem.
No dia fatídico, estava numa
visita de estudo a Mafra e Sintra – mas mesmo que não tivesse, não estaria na
escola, pois à Sexta-feira de tarde não tinha aulas. Mas a outra turma que
também foi na visita de estudo, o 9.º B igualmente da área de Saúde, estaria a
ter aulas na sala imediatamente ao lado da sala onde se deu a explosão.
Durante toda a visita de
estudo choveu torrencialmente e ainda hoje me pergunto: saímos todos vivos da
experiência, não foi?
A serra de Sintra foi
subida, a pé (!), debaixo de uma chuva… diluviana!
Houve quem se metesse por
outros atalhos e caminhos e até houve quem se perdesse.
Mas todos, de uma forma ou
de outra, regressámos ao autocarro, sãos e salvos.
Já muito depois da hora
marcada, chegámos, finalmente, ao Cartaxo – exaustos e molhados, mas felizes
por estarmos vivos.
Ainda me lembro dos olhares
dos outros alunos presentes na Rodoviária, quando nos viram chegar: um olhar
estranho, ausente.
E foi quando soubemos.
Aliás, a primeira coisa que nos disseram, foi: “Houve uma explosão na escola e
a professora Dália ficou muito mal.”
Não nos souberam dizer mais
nada.
Como o autocarro ia para
Santarém, pedi ao motorista se me podia deixar no Vale, que ficava em caminho.
Ele assim fez.
Depois de sair do autocarro,
quando já estava mesmo a chegar a casa, encontro o meu pai, que já se preparava
para ir ao Cartaxo, ver a razão da minha acentuada demora.
“Já soubeste?”, foi tudo o
que lhe consegui dizer.
“É claro que já sei.”
Só depois soube da verdadeira
dimensão do sucedido. E da razão: uma fuga de gás.
Lembro-me de ter ficado
incrédula. E de me recusar a acreditar. Apesar de saber que era verdade.
Passei o fim-de-semana meio
anestesiada, a pensar que só podia estar presa num pesadelo.
Só consegui finalmente
acreditar quando, na Segunda-feira seguinte, me desloquei à escola e vi
polícias a impedirem a entrada. Ninguém soube transmitir informações. Também
vi, com os meus próprios olhos, a sala de aulas onde tinha acontecido, pois a
sala era visível da rua. A memória que eu tenho da sala é que as paredes
estavam cobertas de negrume e as janelas destruídas.
Nos dias imediatamente a
seguir, vieram a falecer dois alunos (uma rapariga e um rapaz), em consequência
da explosão. Isto, claro está, sem falar daqueles que ficaram marcados para a
vida: física e/ou psicologicamente.
Fiquei muito enraivecida com
o aproveitamento político da questão, da parte de todos os quadrantes
políticos. Com ou sem razão, achei todo aquele circo uma autêntica vergonha,
uma verdadeira falta de respeito.
O meu pai, quando soube da
explosão, lembrou-se logo que eu não estava na escola. Mas o pai de uma amiga
minha que também foi na visita de estudo (era aluna da outra turma), foi logo
para a escola. Só depois se lembrou que a filha estava numa visita de estudo.
Uma tia minha, ao saber do
sucedido, quis ir logo à minha casa perguntar à minha mãe por mim. Mas teve
tanto medo de a minha mãe ainda não saber da explosão, que por várias vezes deu
a volta à vizinhança, só para ganhar coragem.
Com a escola encerrada,
várias hipóteses foram colocadas, para o resto do ano lectivo. Uma dessas
hipóteses consistia em distribuir os alunos pelas escolas secundárias vizinhas,
pelo resto do ano lectivo. Outra consistia em a escola permanecer encerrada
para reparações e investigações, reiniciando o mesmo ano escolar, no ano a
seguir.
Mas, mais ou menos um mês
depois da explosão, a escola reabriu. Apenas a área afectada permanecia
isolada, sendo só reaberta no ano a seguir.
Ao que julgo saber, somente
em 2003 (18 anos depois!) é que a explosão de gás foi considerada um acidente.
E o Syriza ganhou as
eleições na Grécia…
É muito bem feito para todos
aqueles que diziam que uma vitória do Syriza ia ser mau para o país.
Só porque é contra a
austeridade???
Os gregos é que lhes
mostraram: no país deles, mandam eles.
E adorei o primeiro acto
oficial do novo Primeiro-Ministro: uma homenagem ás vítimas da perseguição
nazi.
Para bom entendedor…
Até uma próxima
oportunidade.