Olá, como estão?
Não sei se repararam naquela
notícia do semanário “Expresso”, acerca daquele questionário, espécie de “Quem
quer ser diplomata” (http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-06-27-Acha-que-conseguia-chegar-a-diplomata--Faca-aqui-o-teste).
Quando eu li que só 22% dos
alunos testados tinham obtido nota positiva, pensei que o teste devia ser mesmo
muito difícil.
E quando vi que também
podíamos fazer o mesmo teste, fique curiosa. Como eu adoro pôr-me à prova,
confesso que fiquei mesmo muito curiosa: sempre queria ver o que saía dali…
Pois bem, acertei em 72% das
respostas.
Nada mau, se me é permitida
a imodéstia.
Quando respondi às questões,
tive 4 tipo de respostas: as que sabia mesmo, as que tinha uma ideia mas não a
certeza, as por exclusão de partes e aquelas que foram um completo tiro no
escuro.
Sei que pode parecer que me
estou a gabar, mas podem acreditar quando vos digo: não é esse o caso.
Eu realmente gosto de me
testar, de pôr à prova.
Intelectualmente, bem
entendido.
Lembro-me dum psiquiatra que
consultei, quanto tive uma depressão: ele disse-me que a razão de eu trabalhar
tanto o meu, vamos lá, lado intelectual, é que eu estava desesperadamente a
tentar compensar a minha incapacidade física.
Percebem o que eu estou a
dizer?...
Mas a verdade é que eu
sempre fui assim.
Hoje apercebi-me duma coisa.
Quer dizer, eu não me
apercebi, propriamente dizendo.
Porque, verdade seja dita,
eu já sabia.
Acho mesmo que sempre soube.
Então, é assim: eu sou mesmo
muito complicada. Complexa. Difícil.
Nunca fui de trato fácil e o
facto de ser atáxica só acentuou ainda mais essa minha característica, pois ao
mesmo tempo que a minha armadura exterior engrossou e endureceu, bem cá no
fundo a minha sensibilidade agudizou e grita. Sempre. Bem alto e de forma ensurdecedora.
Sei que, por fora, pareço
dura de roer.
Mas não é sempre assim.
Lembro-me de uma vez uma
amiga minha me ter dito que eu, na verdade, tinha um coração de manteiga.
Ao que eu acrescentei:
“Derretida”.
Sou cheia de contradições.
Por um lado não gosto de
puxar galões e reclamar a autoria de algo, mas, pelo outro, gosto de ver quando
o meu trabalho é reconhecido.
Por um lado sou muito
reservada (há quem confunda essa reserva com antipatia), mas, pelo outro, gosto
de ser acarinhada e me sentir integrada.
Acho que é por isso que um
dos meus maiores sonhos é ter uma festa de aniversário-surpresa – que alguém
tenha o trabalho de me organizar uma.
Por causa do que isso
representa.
Compreendem o que eu quero
dizer?...
Sabem, vou-vos contar um
segredo: já fui vítima de bullying.
Quer dizer, à luz da
realidade actual chama-se bullying,
mas a altura chamava-se gozar.
Aliás, pelo que eu sei, o
termo bullying deriva de bully, a palavra inglesa para “gozão”.
Pelo menos, é esta a minha leitura.
Foi no 11.º ano – ano
lectivo de 1986/87.
O meu annus horribilis.[1]
Ou seja, todas as partes
envolvidas já tinham muito boa idade para saber o que andavam a fazer.
Quanto ao bullying em si, não foi físico.
Foi mais refinado, mais
subtil.
Sei que me roubaram de toda
a confiança e ainda hoje não sei se as manifestações físicas que então me
assolaram eram apenas consequências psicológicas do que estava a acontecer, ou
se já eram os primeiros sintomas da ataxia a revelarem-se.
Acho mesmo que nunca vou
saber.
Mas quero acreditar que não
– que uma coisa não teve nada a ver com a outra.
E como tristezas não pagam
dívidas, fico por aqui.
Até uma próxima
oportunidade.