quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

17-12-2014





Olá, como estão?


Eu, estou cansadíssima.
E cheia de dores.
O frio dá cabo de mim…
Mas só tenho uma coisa a fazer: aguentar-me à bronca.
E manter-me quente.
Não é á toa que se diz que o que não tem remédio, remediado está.


Mas (e agora estou a dirigir-me especialmente àqueles que, como eu, são atáxicos) apesar de tudo, ou mesmo por causa disso, nunca sentiram vontade de desistir?
Levantar as mãos para o alto e pensar “que se lixe”?
Esta é uma doença progressiva. E cruel. Que lenta e inexoravelmente, nos vai roubando a nossa capacidade de andar, de coordenar os movimentos, falar, até comer. Que despe a nossa alma e estilhaça a nossa dignidade. Mas cuja suprema perversidade, é não atingir o sistema cognitivo. Ou seja, sabemos e temos consciência do que nos está a acontecer. Sempre.
Então, para quê encetar duras batalhas diárias por dá cá aquela palha, quando eu já sei que esta é uma guerra perdida, logo à partida?
Posso adiar a minha derrota final, mas isso é tudo o que eu consigo fazer.
E será que vale a pena?
Será que o meu cansaço, físico e moral, é compensado pelas pequenas vitórias que eu possa alcançar nas minhas constantes batalhas diárias?
Também.
Mas o que mais me faz continuar, confesso, também é outra coisa.
É que, estão a ver, para mim desistir é sinónimo de perder.
E eu detesto perder.
Para mim, perder, nem a feijões!


E isto leva-me a outro assunto.
Por vezes, deixo de tentar de fazer uma coisa.
Mas não estou a desistir.
Estou antes a escolher as minhas batalhas.
Já fui acusada de estar a desistir.
E ao princípio ainda tinha a preocupação de tentar explicar que não se tratava de nada disso.
Mas agora, confesso, já não.
Disso sim, assumo, que desisti.
Muitas e muitas vezes senti que estava a falar para uma parede.
Senti que estava a desperdiçar o meu tempo e o meu latim, por assim dizer.
E deixei-me disso.
Porque das duas, uma: ou realmente não percebem, ou não querem perceber.
Então, agora deixo-as pensarem o que quiserem.
Se isso as faz felizes…


Deixo agora aqui um poema, “Presságio” de Pedro Homem de Mello, de que gosto muito:

Presságio
Ela há-de vir como um punhal silente 
Cravar-se para sempre no meu peito. 
Podem os deuses rir na hora presente 
Que ela há-de vir como um punhal direito. 
Cubram-me lutos, sordidez e chagas! 
Também rubis das minhas mãos morenas! 
Rasguem-se os véus do leito em que me afagas! 
— A coroa de ferro é cinza apenas... 
E ela há-de vir a lepra que receio 
E cuja sombra, aos poucos me consome. 
Ela há-de vir, maior que a sede e a fome, 
Ela há-de vir, a dor que ainda não veio. 

Pedro Homem de Mello, in "Príncipe Perfeito" 


Bom, acho que, por agora, é tudo…
Até uma próxima oportunidade.


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